Segue a segunda entrada do diário denominado, Cartas de um Naufrago
«Algures, 2ª cart.........
Minha querida,
Será que ainda te poderei considerar como tal, é a questão que se levanta neste dia que amanheceu muito cinzento, no seguimento de como terminou o anterior. Sim, é um facto, nada mais está a ser isto que uma dura e lenta sucessão de dias, muito iguais, muito sem nada, ironicamente preenchidos de nada. Como é que o nada preenche qualquer coisa? Não ligues, divago, é do Sol, é o fruto da lassidão dos dias estendido neste bote. Quando estamos desocupados, pensamos muito e agimos pouco. Contrariamente aos gregos que pensavam para agir, nós agimos para pensar e quando acontece o contrário, é o desespero.
Escrevo-te numa pausa entre rudes e esforçadas remadas, pois tomei a decisão de remar na direcção da ilha, nem que isso me consuma, aqui parado é que não. No ser humano, mesmo a desistência corresponde a uma tomada de posição. Quer seja para parar ou para andar, temos de decidi-lo, que por si só já é acção, e como a nossa bios nunca para, desistir é também uma ilusão, pois corresponde única e exclusivamente a estar parado, sem fazer nada, e isso não. Se tiver de tombar, que tombe a procurar salvar-me, já que tu não o podes fazer.
Se o mar não me ilude, e acredito que não o esteja a fazer, acredito que dentro de algumas horas consiga finalmente pisar terra firme, mas terra firme, outra ironia, haverá notícia de terra firme? Estando nós inquietos, sem convicção, longe do nosso porto de abrigo, haverá terra firme? São para ti estas perguntas, se bem que não me consigas responder, mas são para ti. É contigo que falo quando procuro deixar-me dormir a olhar para as estrelas, é contigo que falo quando procuro perceber esta louca precipitação de eventos, mas não consigo ouvir a resposta. Estás longe, lá tão longe, cada vez mais angustiantemente longe e eu sem nada poder fazer, pois se é um facto que consigo remar até aquela ilha, também é um facto que me está vedado passar da mesma. Todo um muro de azul (ou negro??)está erguido entre nós e tudo o que me resta é isto, pedaços de nada, farrapos, lembranças, duras chagas vivas entranhadas em todo o meu ser abandonado e perdido, aqui despejadas em palavras ocas que por vezes nem de consolo ou libertação servem, antes reflectindo a agrura vivida.
Estou cansado, muito [...]sado[....].
Até breve, embora comece a questi[...] as minhas próprias palavras.
Teu, sempre
ML
Escrevo-te numa pausa entre rudes e esforçadas remadas, pois tomei a decisão de remar na direcção da ilha, nem que isso me consuma, aqui parado é que não. No ser humano, mesmo a desistência corresponde a uma tomada de posição. Quer seja para parar ou para andar, temos de decidi-lo, que por si só já é acção, e como a nossa bios nunca para, desistir é também uma ilusão, pois corresponde única e exclusivamente a estar parado, sem fazer nada, e isso não. Se tiver de tombar, que tombe a procurar salvar-me, já que tu não o podes fazer.
Se o mar não me ilude, e acredito que não o esteja a fazer, acredito que dentro de algumas horas consiga finalmente pisar terra firme, mas terra firme, outra ironia, haverá notícia de terra firme? Estando nós inquietos, sem convicção, longe do nosso porto de abrigo, haverá terra firme? São para ti estas perguntas, se bem que não me consigas responder, mas são para ti. É contigo que falo quando procuro deixar-me dormir a olhar para as estrelas, é contigo que falo quando procuro perceber esta louca precipitação de eventos, mas não consigo ouvir a resposta. Estás longe, lá tão longe, cada vez mais angustiantemente longe e eu sem nada poder fazer, pois se é um facto que consigo remar até aquela ilha, também é um facto que me está vedado passar da mesma. Todo um muro de azul (ou negro??)está erguido entre nós e tudo o que me resta é isto, pedaços de nada, farrapos, lembranças, duras chagas vivas entranhadas em todo o meu ser abandonado e perdido, aqui despejadas em palavras ocas que por vezes nem de consolo ou libertação servem, antes reflectindo a agrura vivida.
Estou cansado, muito [...]sado[....].
Até breve, embora comece a questi[...] as minhas próprias palavras.
Teu, sempre
ML
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