«É manhã, um vento frio corre-me pelo rosto, enquanto passeio pela praia, bem junto à orla marítima. A aragem que corre por cima do mar, por vezes empurra um resto de ondulação para cima dos meus pés e tornozelos. Está quente a água do mar e fico como tendo dois corpos, o superior arrefecido pelo ar frio e o inferior, aquecido pela água. Sensação bizarra, Kafkiana. Seria um, dois, vários, aqui, agora, antes, depois. Muito nos faz pensar a solidão.
Confesso que me sinto perdido, como que a enlouquecer. Os meus pensamentos correm a uma velocidade alucinante, dando muitas vez por mim a dialogar. Dialogar? Falo comigo, construo personagens na minha cabeça que mais não são que reconstituições imateriais da chaga física provocada pela memória, ultimo bastião de reconhecimento, pois tudo aquilo que é, presentemente é novo, sem qualquer ligação. Tenho a possibilidade de construir um mundo novo, mas para quê e para o quê? Sem qualquer ligação ao que quer que seja, não sou nada; Sim, é um facto, tenho sempre todo um mundo à minha volta, seja ele de madeira, cimento, verde, preto, amarelo, sei lá, e tenho, presentemente, todo um admirável e belo mundo à minha volta, mas ele é mudo, mudo e a interacção é sublime, só percetível pelo que me pode ou não acontecer. Do mesmo modo, não é sempre assim?
Comparando o horizonte factual a um manequim, concluímos que seja qual for a roupa com a qual esteja vestido é sempre anónimo, está sempre impávido e sereno, mudo, ou pelo menos assim nos parece. Como tal, ou revemo-nos na sua "apresentação" ou não. E por quem foi montada essa apresentação? Faltam-me novos manequins e o frenesim da sua montagem diária, necessito mudar a minha representação, reavivar as minhas memórias, construir nova vida e adquirir novas memórias. Cheiros, toques, sons, apaziguamentos, zangas, disputas, beijos, abraços, lágrimas, tudo, tudo aquilo que depende de mim, tudo aquilo que depende do manequim. E o novo, o que é novo? Tudo, pode ser tudo, até mesmo uma recuperação do velho.
Aqui ou noutro lado, as sensações são iguais, apenas muda o isolamento, de escolhido para imposto. Casam mal duas ilhas, por isso são isso mesmo, ilhas, infundíveis, e no limite constituem-se, exogenamente definidas como tal, em arquipélagos.
Cada vez me convenço que não poderia ter dado melhor nome a esta ilha, um ilha chamada Eu e sinto que está na hora de partir, pois a salvação vista como sobrevivência deixou de ser suficiente. Naquilo que do tempo é meu, há que tomá-lo em mãos, a espera anuncia o seu fim e de qualquer modo de naufrago não passarei, pois que é uma possibilidade bem forte para qualquer navegador que se preste à aventura. Mãos à obra, vou regressar.
Teu,
ML»
Confesso que me sinto perdido, como que a enlouquecer. Os meus pensamentos correm a uma velocidade alucinante, dando muitas vez por mim a dialogar. Dialogar? Falo comigo, construo personagens na minha cabeça que mais não são que reconstituições imateriais da chaga física provocada pela memória, ultimo bastião de reconhecimento, pois tudo aquilo que é, presentemente é novo, sem qualquer ligação. Tenho a possibilidade de construir um mundo novo, mas para quê e para o quê? Sem qualquer ligação ao que quer que seja, não sou nada; Sim, é um facto, tenho sempre todo um mundo à minha volta, seja ele de madeira, cimento, verde, preto, amarelo, sei lá, e tenho, presentemente, todo um admirável e belo mundo à minha volta, mas ele é mudo, mudo e a interacção é sublime, só percetível pelo que me pode ou não acontecer. Do mesmo modo, não é sempre assim?
Comparando o horizonte factual a um manequim, concluímos que seja qual for a roupa com a qual esteja vestido é sempre anónimo, está sempre impávido e sereno, mudo, ou pelo menos assim nos parece. Como tal, ou revemo-nos na sua "apresentação" ou não. E por quem foi montada essa apresentação? Faltam-me novos manequins e o frenesim da sua montagem diária, necessito mudar a minha representação, reavivar as minhas memórias, construir nova vida e adquirir novas memórias. Cheiros, toques, sons, apaziguamentos, zangas, disputas, beijos, abraços, lágrimas, tudo, tudo aquilo que depende de mim, tudo aquilo que depende do manequim. E o novo, o que é novo? Tudo, pode ser tudo, até mesmo uma recuperação do velho.
Aqui ou noutro lado, as sensações são iguais, apenas muda o isolamento, de escolhido para imposto. Casam mal duas ilhas, por isso são isso mesmo, ilhas, infundíveis, e no limite constituem-se, exogenamente definidas como tal, em arquipélagos.
Cada vez me convenço que não poderia ter dado melhor nome a esta ilha, um ilha chamada Eu e sinto que está na hora de partir, pois a salvação vista como sobrevivência deixou de ser suficiente. Naquilo que do tempo é meu, há que tomá-lo em mãos, a espera anuncia o seu fim e de qualquer modo de naufrago não passarei, pois que é uma possibilidade bem forte para qualquer navegador que se preste à aventura. Mãos à obra, vou regressar.
Teu,
ML»
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