Eduardo Neves, Cruzamento: Lisboa Cinzenta num Final de Tarde
Não se pode deixar de ficar perplexo ao pensar na contradição existente entre o que o nome António de Oliveira Salazar representou e representa. Trata-se de uma pura antítese. Agora, perante isto, devemos tirar ou chapéu à sociedade e à democracia portuguesa ou enfiar o barrete até bem fundo? Sinceramente, acho que devemos ficar a meio de ambas o que também não deixa de traduzir aquilo que a nossa sociedade é há já muito tempo, isto é, um meio "qualquer coisa" entre dois pontos de "qualquer coisa" que nunca chega a ser verdadeiramente nada, por muito bom ou muito mau que isso seja.
Regressando ao tema propriamente dito - com laivos de canal privado especialista em sensacionalismo barato - da eleição do maior português de sempre. Em relação ao mesmo devemos analisar o problema, no meu ponto de vista, a partir de uma questão chave. Assim, em reposta à questão "como é isto possível?", devemos por um lado, elogiar a maturidade da democracia portuguesa - e a capacidade de superação ou esquecimento - mas por outro, caso sejamos democratas e pluripartidários, pensar em três pontos fundamentais, a saber: 1 - Onde andaram os políticos nos últimos 36 anos? 2 - Onde andámos nos últimos 36 anos? 3 - E o terceiro não é uma questão, mas uma afirmação, ou uma suspeita, ou seja, a responsabilidade virá para cima de uns quantos incultos e de um sistema de votação que não toca a verdade, pois quem é decente, quem pensa, não alinha nestas coisas. Conclusão, há por aí muito indecente.
Contudo, o que se deve ler no ponto numero 3 é que o mesmo é a causa dos dois anteriores, isto é, a constante desresponsabilização dos políticos que culpam sempre alguém, em ultima instância mesmo quem neles vota, por isto ou por aquilo, sem que façam exercícios de autocrítica. Esse comportamento típico é que causou tudo isto, por muito de somenos que a questão tenha. Pois de facto, nada mudou - do ponto de vista da estrutura política - no nosso país desde o passado Domingo. Mas e nós? Não teremos nós forçosamente de ter mudado? Não nos terá feito pensar, pelo menos pensar? Sou de esquerda, filiado, mas na verdade sou só mais um, um pendura.
Conclusão, Salazar, mesmo morto, deu um salto ontológico e tornou-se estrela principal do texto escrito há anos por Mário Zambujal, intitulado "Crónica dos Bons Malandros"
Conclusão, Salazar, mesmo morto, deu um salto ontológico e tornou-se estrela principal do texto escrito há anos por Mário Zambujal, intitulado "Crónica dos Bons Malandros"
1 comentário:
Comparar esse senhor aos bons malandros da dita "crónica" é um bocadinho... excessivo? Acho que o Zambujal não ia gostar :)
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