Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.
Recordo outro ouvir-te,
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.
Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.
Fernando Pessoa
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.
Fernando Pessoa
Saudade, saudade, essa expressão tão portuguesa, segundo dizem. Saudade, saudade daquilo que foi, que nos marcou, que nos fez sentir vivos. Saudade, essa forma estranha de sentir a falta de alguma coisa, esse querer agarrar os tempos que passaram, os tempos e os seus conteúdos, esse querer ser aquilo que já se foi, querer ter o que já se teve. Saudade, que nos reduz ao mais elementar daquilo que é ser humano, o perecível. Saudade, o peso do ser consciente de si, o peso da razão. Saudade, saudade de um cheiro, de um movimento, de um rosto, de um toque, de um reflexo, de uma frase, de um ano, de uma fracção. Saudade, como se algo sem forma, sem peso, sem matéria, mas ao mesmo tempo tão massivo, nos pudesse tocar. Saudade, saudade de ti, dele, deles, saudade de mim. Saudade, que pelo meu ser já tão morto, me fazes lembrar que estou vivo.
1 comentário:
Alguém disse: "A todo o momento uma saudade revive no nosso coração para torturá-lo. Aqui uma cadeira, o guarda-chuva deixado na sala de espera, seu copo que a criada deixou de retirar! E em todos os sitios se encontram coisas esparsas: as suas tesouras, uma luva, um livro cujas folhas foram viradas pelos seus dedos, um grande número de pequenas coisas que assumem um significado doloroso, porque lembram mil pequenos acontecimentos."
Pequeno, sim. Fraquito...nem por isso! :)
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