quarta-feira, abril 07, 2010

Lisboa, a nossa Lisboa


Cais das Colunas, Eduardo Neves

Lisboa é

Lisboa,

Lisboa é Alfama, é a Mouraria, é O Bairro Alto, são as senhoras de idade a pendurarem a roupa nas varandas já gastas pelo tempo enquanto discutem preços e maridos, maridos idos ao trabalho ou já idos da vida, mas que contudo persistem nos horizontes da memória.

Lisboa,

Lisboa é a Graça, O Carmo, O chiado, os miradouros de onde se vislumbra o Tejo e a Baixa, baixa por onde passeiam turistas e pessoas anónimas de diferentes credos e raças, com os seus cheiros e modos e que sem o saberem nos trazem o mundo. Trazem o mundo a Lisboa.

Lisboa,

Lisboa é o Restelo, a Ajuda, a 25 de Abril, o Oriente e o Parque das Nações, onde se corre e se fazem os passeios domingueiros ou de final de dia, com cães ou crianças, a sós ou acompanhados, namorados, casados, apaixonados ou enamorados, amores perdidos, amores achados, vividos ou apenas desejados, de qualquer uma das formas, com o amor pela mão, seja pelo outro, por si, ou pela vida.

Lisboa,

Lisboa é o cheiro a alcatrão quente nas filas de trânsito, a maresia no Cais do Sodré, a mercado no Livramento ou em Arroios. São os pedintes, os pintores, os transeuntes, os vendedores à socapa, a Luz e Alvalade, o Restelo e a tapadinha. Lisboa é o povo.

Lisboa,

Lisboa é Santos, Lisboa é a Avenida da Liberdade, o Parque Eduardo Sétimo, a Bica e o Adamastor. Lisboa é vida, é história, Lisboa é passado, presente e futuro. A ela chegamos, dela partiremos, nela crescemos. Lisboa é vida, é a nossa vida, a vida de quem por cá passou e deixou de ser o mesmo.

Lisboa,

Lisboa são os prédios por arranjar e aqueles que já o foram.

Lisboa,

Lisboa é Monsanto, o verde de mar ao fundo, é esta também a sua roupa, verde de mar ao fundo.

Lisboa,

Lisboa é a agitação dos dias que contrasta com a calma do Tejo nos dias de verão na sua eterna caminhada para o mar, onde todos os rios terminam, mas onde nenhum acaba.

Lisboa,

Lisboa és tu, é de ti a sua cor e o seu cheiro, é por ti que emerge do anonimato do pensamento que não pensa, do olho que não vê, do nariz que não cheira. Lisboa desperta e repousa contigo, agita-se na sua azáfama diária quando estás, fica dormente quanto partes.

Lisboa,

Lisboa és tu, nos passeios dados pelas ruas e avenidas, onde nada escapa, onde tudo escapa, onde o tempo não para de correr tal como o rio. Todos os tempos terminam, mas nenhum acaba.

Lisboa,

Lisboa és tu inscrita nos horizontes da memória, um dia relatada pela boca cujas mãos estenderão a roupa à janela e falarão do marido ido, ido ou já ido.

Lisboa,

Lisboa és tu, nas calçadas pisadas, nos lábios beijados, nas promessas feitas, na vida a par e passo construída.

Lisboa,

Lisboa és tu, um coração de pedra, água, vento, sons, barulhos e cheiros, que bate ao ritmo do dia-a-dia, que o é e bate porque tu estás.

Lisboa,

Lisboa és tu, quando te diz olá ao primeiro raio de sol que bate na janela, ou boa noite no apagar das velas.

Lisboa,

Lisboa és tu e agradece-te.

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