Pablo Picasso, Florecitas
Os caminhos do amor:
Um dos maiores desafios com que somos confrontados, penso eu, relativamente a qualquer questão durante a nossa vida, é a conjugação entre acção e palavra, especialmente quanto uma traiu a outra, ou mesmo que não tenha traído, uma vez que a expressão é já em si profundamente gravosa, revelou algum descuido para com a mesma.
Nas questões amorosas, e não nos detenhamos a meditar sobre o que é o amor, pois há aí muito de ditatorial, uma vez que o mesmo pode ser vivido de diversas formas, esta falha, esta falta de cuidado, descuido ou traição - no limite, pode revelar-se profundamente gravosa para a relação em questão (senão mesmo fatal) pois aquele que não cuidou, pode tender a exagerar na ânsia de recuperar da sua falta e esquecer-se do equilíbrio necessário, e aquele que não notificou a falta de cuidado, e não morrendo nunca a culpa solteira, pode tê-lo feito tarde demais, criando em si um vazio difícil de voltar a preencher.
Como voltar a ter aquela intimidade explícita num tom de voz, num gesto, numa comunicação surda que só ambos entendem, num nunca estar sozinho, mesmo a milhares de quilómetros, ou num estar a dois no meio de uma multidão? É isto que se perde na falha do cuidar e não a loucura do amor físico, pois que essa recupera-se facilmente, ou não tivéssemos nós toneladas de hormonas.
Se pudéssemos colocar em sacos de mercadorias o físico e o emocional, veríamos que os preços e os próprios pesos seriam radicalmente diferentes, especialmente com o avançar da idade, que acarreta consigo a perda de pudor, ou a desvalorização do mesmo, pelo uso confortável do corpo a nosso belo prazer. Já quando se mexe com factores íntimos, sendo que íntimo aqui se relaciona com aquela proximidade muito própria da emoção, penso que o caso muda um pouco de figura.
O íntimo é o mais difícil de conquistar, é a música silenciosa de qualquer relação, é o espaço onde todas as diferenças se encaixam e resultam numa harmonia fruto dessas mesmas diferenças. A intimidade, na opinião deste modesto pensador, vale por muitas noites de loucura física, até porque o corpo se degrada e vai perdendo fulgor. Corrijam-me se estou errado, sempre, que agradeço.
2 comentários:
Não, não estás errado. Todas as pessoas do mundo andam á procura da intimidade do amor, de se sentirem completas e amadas reciprocamente. Mas não o querem confessar ou por vezes admitir.... A verdade é que procurar a felicidade dá muito trabalho ao ser humano... Por isso a maior parte das vezes, as pessoas só procuram loucas noites de paixão (dá muito menos trabalho)...que depois do calor efémero, deixam só um grande vazio...gelado, amargo e solitário...há coisas para as quais não vale mesmo a pena ser preguiçoso...
Adorei a tua meditação. Andamos todos no encalce do tal amor e ao mesmo tempo dele fugimos... uma aparente contradição!
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