Conta-me Como Foi
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07 de Abril de 2009
"Conta-me como Foi" é uma expressão que nos tranquiliza ou nos entristece, pela falta ou pela ausência para a qual remete. Do ponto de vista ontológico, contudo, representa a nossa incapacidade de reviver a vida ou de apagar certos elementos menos agradáveis. Em suma, "conta-me como foi" representa a linearidade do tempo, com todo o que isso tem de bom e de mau. "Conta-me como Foi" representa a raiz ontológica como historicista, por um lado, no sentido do que já foi, e como futurista [futurista aqui com tudo o que a expressão representa de vazio] por outro, no sentido da forma como nos havemos de constituir, neste perpétuo devir. Assim, no "conta-me como foi" temos o relato do passado para o futuro, com curtas passagens pelo presente, que servem para ouvir e para fazer planos.
No episódio do passado Domingo, 05 de Abril de 2009, na aldeia de origem da família Lopes, ocorreu um encontro com um latifundiário, fascista, com o poder da terra, que era o poder do regime. O mesmo, quando soube que o filho mais velho do Sr. Lopes, o "Toni" estava a tirar Direito disse ao Sr. Lopes: "Ainda dizem que o Salazar não fez nada pelos pobres"
A forma como foi dito, a filmagem, a classe dos intervenientes, até a mim me fizeram saltar um "filho da p......"!!!
Portugal atravessa uma situação muito difícil. Desemprego, baixas qualificações, certificações inadequadas, abandono escolar, falta de segurança, banditismo, etc. Em virtude disto, tenho ouvido muitas vezes, mesmo da boca de resistentes ao
ancient régime, que o que faz falta é o Salazar.
Ontem, 06 de Abril de 2009, cruzei-me com uma das primeiras tiras da Mafaldinha, onde a mesma diz: "-Não é verdade que dantes se estava melhor. É que os que estavam pior ainda não se tinham apercebido."
Nada de mais errado na frase dos saudosistas, dos revoltados ou dos desiludidos, nada de mais certo na tira da Mafaldinha. Somos uns sortudos que assistimos a estas séries e documentários com a segurança da distância, movidos pela curiosidade historicista, ou pelo desejo intelectual.
Mas, do ponto de vista da consciência, segundo o meu ponto de vista, aquilo para o qual a série alerta, com a grande qualidade que a caracteriza [só o facto de ser a criança o narrador] é para a necessidade de uma cidadania activa, é para a compreensão do valor da democracia e da Liberdade, assim como para as exigências de acessibilidade e mobilidade social. Mostra-nos também uma geração que lutou por um ideal, por um Portugal livre e democrático, mostra-nos uma geração que ultrapassou os seus medos, o medo do ESTADO. Contudo, mostra-nos também que ainda temos muito caminho a percorrer neste nosso Portugal, pois que contarei eu, que contaremos nós aqueles que nos seguirão?