sexta-feira, março 13, 2009

Arrendamentos, sem o patrocínio do Millenium e sem "Paitrocínio"

O Logro do Lógos
Gato por Lebre, ou a sociedade contemporânea do devir negativo

Era uma vez um casal, que procurava uma casa, na nossa bela capital. Possuía alguns tostões, poucos mas honestos e quase não tinha dívidas, caso raro cá no burgo.
Comprar estava fora de hipótese. Entre as incógnitas acerca do rumo dado à quase Columbana taxa de juro pelo banco central e do desemprego, as dúvidas são muitas! Para além do mais, como se pagam até os milímetros cúbicos de tinta usada na assinatura, já para não falar nas horas de trabalho perdidas à procura da taxa mais leve (um cêntimo de diferença que seja) decidem arrendar. Depois, bom depois, mercado muito caro, casas com preços exorbitantes, senhorios que não cumprem e não são fiscalizados, enfim depois não querem que as pessoas prefiram comprar. Nisto, e recorrendo à infalível Web, eis que surge a casa dos sonhos, não, não desenganem-se, não é pela cor, pela disposição ou pelo formato, é mesmo pelo PREÇO; 400 euros, 400 euros e uma palete de garrafas de água no café da esquina. Promoção, Caridade, logro ou aflição do proprietário!!??? Mistério!!

A zona, urbana, mais ou menos arranjadinha, mas também algo votada ao abandono. A casa, bom a casa, uma surpresa, entra-se, ampla, com varanda, bela cozinha. Onde estará o logro!? Começa-se a ouvir um "chinfrim" aqui, um "corrupio" ali, a senhoria toma o primeiro comprimido. Outro "corrupio", mais uns gritos, e pimba, outro comprimido. À terceira "bagunçada", eis que a pobre senhora se desfaz em lágrimas e confessa:

- Olhe, não adianta ocultar: vizinhos histéricos no primeiro piso, que se catam e fornicam a noite toda como loucos, pedindo esmola à tarde e guardando a manhã para dormir . A hora de almoço fica para o vício; No rés-do-chão mora uma artista fracassada, que se enche de barbitúricos e Whisky; No topo, um ex-tenor, que perdeu a voz num jogo de cartas com o diabo e na cave, na cave um idoso tenebroso QUE DETESTA CÃES, CRIANÇAS E QUE CRIA POMBOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Mas todos têm médico de família, rendimento mínimo e as vacinas em dia (aos do primeiro piso acrescente-se a dose de metadona). E pronto, lá se foi o sonho do pobre casal, por sinal com os impostos em dia e a carteira vazia, mas também por uns míseros 400 euros, o que se poderia esperar, um qualquer nome pomposo como "Varandas do Tejo" (o tejo tem varandas???), "Quinta de um sítio qualquer" ou "Alta de Algures para Nenhures"?

Falta o simplex para o arrendamento ou melhor, continua a faltar governo para o simplex.


Não é meu, mas acrescentar o quê!!


Lições de Economia contemporânea

Pela primeira vez no meu blog, vou colocar algo, ipsis verbis, que não foi escrito por mim. Mas quando nos deparamos com considerações às quais nada é preciso acrescentar, ou às quais todo e qualquer comentário não será mais do que redundante, tal não é a acutilância da ideia e a clareza usada na exposição da mesma, nada mais há a fazer do que reproduzi-las na íntegra, tornando aquilo que é nosso, neste caso um humilde blog, em mais um veiculo para a transmissão de um pensamento que, sob o meu ponto de vista, merece o lugar da universalidade.

Assim, Na edição nº 11 do Jornal de Letras de 24 de Março de 2009, o Professor Viriato Soromenho-Marques, usando de toda a sua argúcia, escreveu o seguinte:

"A melhor imagem do curso e da actual crise económica e financeira é a de um tsunami em progressão. Uma vaga poderosa que percorre a face de toda a Terra num número indeterminado de vezes, varrendo mais e mais obstáculos, que, em cada passagem, se erguem à sua frente. Face a essa terrível força destrutiva os recursos conceptuais que temos são escassos. A melhor atitude seria a da douta ignorância. Mas isso seria esperar demasiado da parte de líderes políticos que fizeram suas, durante décadas, as receitas que nos conduziram a este buraco em cujo fundo ainda não batemos. Não só a ignorância que ainda domina é atrevida, como se baseia na ausência da mais elementar memória crítica. No mínimo, seria de esperar que quem nos governa tivesse um registo competente do que aconteceu na crise desencadeada pelo crash bolsista de 1929. Mas não, os nossos líderes não têm memória. Na europa, os princípios básicos da circulação livre de pessoas e bens estão a ser postos em causa por uma vaga de proteccionismo, amparada por declarações insesatas de figuras como o Presindente francês, que ameaçam repetir os erros que em 1930 levaram da crise bolsista à Grande Depressão. A saída efectiva desta crise só acontecerá quando tivermos uma consciência clara das razões que a ela nos conduziram. E quando a partir daí lançarmos uma nova estrutura de regulação das instituições económicas e fianceiras, nos planos nacional e internacional, articulada com políticas públicas assentes nos mesmos princípios. O princípio fundamental da nova ordem financeira, económica e política será a do tempo longo. A humanidade precisa de conquistar um horizonte estratégico de sustentabilidade, alicerçado no reconhecimento dos limites e possibilidades ambientais e sociais que as estruturas e paisgens ecológicas e culturais consentem. E isso implicará uma mudança profunda tanto na gestão dos fluxos financeiros como das práticas políticas. Actores políticos que organizam a sua agenda em função de ciclos eleitorais curtíssimos estão em perversa sintonia com os dirigentes das agências de investimento e da banca que organizavem os seus salários e bonús em função dos lucros obtidos no decurso de um ano financeiro. Sem consideração sobre os impactes ambientais e sociais das duas decisões no médio e longo prazos.
Quem vive como se não houvesse futuro acaba mesmo por abrir as portas para o colapso. Este tsunami começou nas cabeças e nos corações. A sua ultrapassagem terá de passar também por aí."

O tempo, sempre o tempo, o da vida, o do dinheiro, o do trabalho, o das férias, o do sorriso, o da decisão! Nunca percebemos que é tão pouco e tão precioso, e nunca percebendo isso, levados pela canícula, pela ganância, pelo egoísmo, pelo LUCRO, tornamo-lo ainda mais curto, para nós e para os outros, os outros, que contam cada vez menos como outro, e mais como número. Assim, pelo conflito entre género e número, chegaremos, quem sabe, ao conflito da espécie e será ainda mais curto o tempo. Poderosos e mandatários é preciso um grito sob pena de soçobrarmos à luz dos nossos próprios monstros.