Era uma vez um casal, que procurava uma casa, na nossa bela capital. Possuía alguns tostões, poucos mas honestos e quase não tinha dívidas, caso raro cá no burgo.
Comprar estava fora de hipótese. Entre as incógnitas acerca do rumo dado à quase Columbana taxa de juro pelo banco central e do desemprego, as dúvidas são muitas! Para além do mais, como se pagam até os milímetros cúbicos de tinta usada na assinatura, já para não falar nas horas de trabalho perdidas à procura da taxa mais leve (um cêntimo de diferença que seja) decidem arrendar. Depois, bom depois, mercado muito caro, casas com preços exorbitantes, senhorios que não cumprem e não são fiscalizados, enfim depois não querem que as pessoas prefiram comprar. Nisto, e recorrendo à infalível Web, eis que surge a casa dos sonhos, não, não desenganem-se, não é pela cor, pela disposição ou pelo formato, é mesmo pelo PREÇO; 400 euros, 400 euros e uma palete de garrafas de água no café da esquina. Promoção, Caridade, logro ou aflição do proprietário!!??? Mistério!!
A zona, urbana, mais ou menos arranjadinha, mas também algo votada ao abandono. A casa, bom a casa, uma surpresa, entra-se, ampla, com varanda, bela cozinha. Onde estará o logro!? Começa-se a ouvir um "chinfrim" aqui, um "corrupio" ali, a senhoria toma o primeiro comprimido. Outro "corrupio", mais uns gritos, e pimba, outro comprimido. À terceira "bagunçada", eis que a pobre senhora se desfaz em lágrimas e confessa:
- Olhe, não adianta ocultar: vizinhos histéricos no primeiro piso, que se catam e fornicam a noite toda como loucos, pedindo esmola à tarde e guardando a manhã para dormir . A hora de almoço fica para o vício; No rés-do-chão mora uma artista fracassada, que se enche de barbitúricos e Whisky; No topo, um ex-tenor, que perdeu a voz num jogo de cartas com o diabo e na cave, na cave um idoso tenebroso QUE DETESTA CÃES, CRIANÇAS E QUE CRIA POMBOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Mas todos têm médico de família, rendimento mínimo e as vacinas em dia (aos do primeiro piso acrescente-se a dose de metadona). E pronto, lá se foi o sonho do pobre casal, por sinal com os impostos em dia e a carteira vazia, mas também por uns míseros 400 euros, o que se poderia esperar, um qualquer nome pomposo como "Varandas do Tejo" (o tejo tem varandas???), "Quinta de um sítio qualquer" ou "Alta de Algures para Nenhures"?
Falta o simplex para o arrendamento ou melhor, continua a faltar governo para o simplex.