Amadeo de Sousa Cardoso, A Máscara do Olho Verde
Pensar / Dizer
Não me é permitido nem aconselhável dizer tudo o que penso, no modo como penso, pois aquilo que eu digo não é mais do que aquilo que eu quero, ou acho necessário, que os outros saibam ou conheçam de mim, acerca do modo como vejo o mundo e as coisas, mesmo aqueles que eu mais prezo e em quem mais confio.
Caso contrário, corro o riso de me tornar transparente, eliminando o antagonismo que gere o humano, tornando-me em algo tido como garantido, como se de uma posse se tratasse. É um facto que o desejo é fruto de conhecimento insuficiente e não quero deixar de ser alvo de interesse, pois um amor - amor aqui no sentido do desejo, do querer qualquer coisa - desinteressado é um amor desinteressante.
Como nos diz Kundera:
“ […] Um romance é fruto de uma ilusão humana, a ilusão de podermos compreender os outros. Mas que sabemos nós dos outros?”
“ O mais que podemos fazer […] é apresentarmos um relatório sobre nós próprios, cada um apresenta o seu próprio relatório. O resto não passa de um abuso de poder. Tudo o resto é mentira.”